Caso uma pessoa tenha dor intermitente (aquela que aparece hora sim, hora não) mesmo que esta seja aguda e forte, isso por si só não justifica a realização de exames de imagens pois, neste caso, quando alguém tem uma dor que aparece e desaparece em determinadas posições ou momentos do dia, existe grande chance de uma alteração mecânica estar produzindo tais sintomas/ dor. O que seria isso? Qualquer posição ou movimento que gera algum tipo de sintoma (dormência, dor, fisgadas, repuxos e por aí vai). Uma vez que estas posições ou movimentos sejam interrompidos, o sintoma também é abolido.
As dores mecânicas trazem a sensação e a constatação de uma articulação estar travada (desde graus leves, até os mais graves), com um ou mais movimentos dolorosos, fazendo você lembrar frequentemente que tem costas, perna ou braço, por exemplo.
No caso de uma queda, quando a pessoa bate com as costas ou a cabeça no chão, ou até mesmo um acidente de carro, aí sim é imprescindível realizar exames de imagem, antes de tomar qualquer outra decisão, para descartar qualquer possibilidade de fratura, que por si só já é um evento relevante.
Outro caso é o de uma pessoa que tenha histórico de câncer na família e que começa a sentir cansaço, falta de apetite, enjôos, podendo tal mal-estar ser causado por uma condição grave. Este estado deve ser investigado através do exame clínico, junto ao exame de imagem, que poderá então confirmar o diagnóstico do paciente.
Portanto, se nenhuma dessas das condições descritas estiverem presentes e a pessoa estiver sentindo dores que são interrompidas ao longo do dia, em determinadas situações, a primeira informação que se deve ter é: não é grave, não se desespere. Hoje, infelizmente, a estatística mostra que a maioria dos brasileiros e também cidadãos em diferentes países (EUA, por exemplo) realizam, diariamente, exames de imagem de forma inadequada e desnecessária. Existe aí uma questão bastante delicada: qualquer indivíduo, a partir da segunda década de vida, que realizar exames de imagem terá alterações em qualquer tecido pesquisado (ossos, cartilagem, tendão, ligamento etc).
O problema é que na maioria dos casos (mais de 90%) estas alterações não estão compatíveis com as dores ou sintomas sentidos, mas se pensa terem uma conexão. Grande maioria destes pacientes, quando avaliados, apresentam resposta positiva, com a redução ou a abolição da dor, como também a melhora de suas funções diárias e ganho dos movimentos. Caso eles decidam ou seus médicos recomendem repetir os exames, na maioria dos casos as imagens não terão mudado. Por que será?
Vamos pensar pelo lado lógico. Existe alguma possibilidade de tais imagens (como ossos que se articulam, ou ligamentos, ou o tamanho de um forame, ou um tendão) se modificarem no período de alguns dias? Uma semana? Ou até mesmo em alguns meses?
Imagine que qualquer sintoma que você sinta (seja dor, dormência, formigamento ou qualquer outra sensação) tenha modificado para melhor e assim permanecido na primeira semana de tratamento.Se decidir repetir o mesmo exame de imagem, a chance das mesmas alterações (hérnia de disco, osteófitos, sinais degenerativos etc) ali estarem é de quase 100%, pois elas ocorrem ao longo de vários e até muitos anos vida.
Então, se existe uma mudança rápida do sintoma, significa que não são aquelas alterações da imagem as responsáveis pelo que se sente. Isso também significa que tais alterações no exame são achados normais, que aumentam com o passar dos anos, como rugas e marcas de expressão no rosto que são, nada mais, que sinais naturais do nosso envelhecimento.
Podemos concluir que os exames de imagem têm de fato grande importância na detecção de fraturas ou tumores, que são casos graves (eles representam menos de 2% da população) e trazem dor constante. Portanto, não justifica realizá-los em todos os pacientes, pois sua maioria tem dor intermitente.
O que acontece na maioria dos casos - talvez você faça parte dela - é que as pessoas com este quadro de dor passam pelo protocolo de atendimento médico, são indicados à fazer ressonância magnética ou tomografia, e são bombardeados com inúmeras informações médicas, nomes técnicos para as alterações encontradas e que representam, em sua maioria, o envelhecimento natural das articulações e das estruturas que elas envolvem: as tais rugas internas, que ganhamos com o passar da vida.
Mas o processo continua: seguindo-se o modelo de avaliação e tratamento médicos, infelizmente, os sintomas são atingidos e tratados apenas parcialmente, uma vez que medicamentos conseguem tratar apenas a parte química da dor, mas não a parte mecânica. Muitas vezes o paciente até passa por procedimentos cirúrgicos, sem ao menos antes ter sido avaliado e testado mecanicamente.
Aí está uma relevante questão: o paciente precisa com toda certeza ser investigado do ponto de vista mecânico e físico, através de testes de movimentos ou posições que possam trazer, para o profissional especializado, informações suficientes para então traçar o tratamento adequado à cada caso. Estas informações serão certamente muito úteis na tomada de decisão pela abordagem mais adequada a cada caso.