Com o advento da internet e o acesso a um maior volume de informações de acesso ainda mais facilitado, o século XXI traz maior dinâmica à vida das pessoas. Como consequência, nos propomos a fazer mais e “ter menos tempo” para atividades de lazer e ócio ou mesmo termos a sensação de incompletude das nossas atividades.
“Tempo é dinheiro”. Fato: tempo hoje vale muito dinheiro ou ainda mais: qualidade de vida. Você já calculou o tempo que gasta de sua casa ao trabalho?
E tem idéia de quanto tempo seu vizinho ou um parente gastam nesse percurso? Segundo dados do IBGE, o brasileiro gasta em média 5% do seu salário com o tempo de deslocamento da casa para o trabalho.
Em Belo Horizonte, minha cidade natal, a média de tempo para se deslocar ao trabalho era de 36,6 minutos, de acordo com dados da PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) em 2012. Para se ter uma idéia do custo deste tempo em grandes cidades, a economia da Região Metropolitana do Rio de Janeiro é a que mais perde em todo o país devido às longas viagens feitas por grande parte dos trabalhadores. O custo desse tempo que poderia ser investido em produção chegou a R$ 35,7 bilhões em 2014, segundo um levantamento do Jornal O GLOBO, e corresponde a 8,1% do PIB da região.
Com tantas mudanças e dificuldades impostas pelo crescimento das cidades, as pessoas têm buscado outras formas de solucionar a “falta de tempo”, se propondo trabalhar em casa e dividir um pouco suas horas de trabalho, permitindo que seus dias sejam ocupados com mais variadas funções e atividades.
Nesse cenário, tudo aquilo que se pode fazer por conta própria, oferece grande vantagem na economia de tempo, maior eficiência e precisão em sua prática.
Agora que já pude contextualizá-lo, vamos a um assunto que não só faz parte da minha área de atuação como também está muito ligado ao estilo de vida contemporâneo: o sedentarismo, dores lombares e articulares.
No mundo é alta a prevalência de dor lombar (principalmente entre adultos de 30 a 50 anos) e, em algum momento ao longo da vida, aproximadamente 80% de sua população experimentará um ou mais episódios de dor lombar (Deyo, 2006; Anderson et al, 1999). A prevalência para a dor lombar é extremamente comum, afetando 30-40% dos adultos, na população geral. Entre esses extremos, a prevalência para dor cervical e do ombro é de 15-20% e para dor no joelho, disfunção temporomadibular e dor difusa crônica é de 10-15% (Crombie et al, 1999).
Considerando-se o estilo de vida sedentário, este é representado por cerca de 62% da população brasileira (IBGE 2017; PNAD, 2015) e, segundo dados da OMS, aproximadamente 70% da população mundial é sedentária.
A dor lombar é uma condição que pode atingir até 65% das pessoas anualmente e até 84% das pessoas em algum momento da vida (Walker, 2000), apresentando uma prevalência de aproximadamente 12% na população mundial (Hoy et al, 2012), o que causa grande demanda aos serviços de saúde (Hart et al, 1995).
Em termos de produtividade, a dor lombar causa perdas na ordem dos 30%, além dos custos indiretos, representados por ausência do trabalho e redução salarial.
Em um artigo publicado em 2000 (Alfredsson et al.) foram estudados fatores ocupacionais relacionados com a lombalgia. Os resultados apontaram que, em ambos os sexos, tanto o sedentarismo como o trabalho com grandes cargas representam indicadores de risco para se desenvolver e perpetuar dor lombar.
Para se ter uma idéia, nos Estados Unidos o custo anual total estimado da perda de tempo produtivo devido a dores lombares, artrite e dores musculoesqueléticas foi de quase US$ 42 bilhões, em 2002. A média de perda de tempo produtivo foi de 5 horas semanais (Stewart et al, 2003). Em 2014, cerca de 69 milhões (28,6%) de adultos no país relataram dor lombar com duração entre 1 dia e 3 meses. Lá, os custos totais estimados relacionados à lombalgia excedem US$ 100 bilhões a cada ano, sendo 2/3 dos custos indiretos (Blackwell et al, 2014; Katz et al, 2006).
A dor lombar representa, ainda, 15% de todo o absenteísmo laboral na Noruega (Werner & Côté, 2009), sendo na Sociedade Ocidental a causa mais comum e mais cara deste (Heymans et al, 2009).
No Brasil, as dores musculoesqueléticas estão entre as principais causas de pedidos e concessão de auxílio-doença, chegando a 18,7% do total, e representam 26,4% dos casos de aposentadorias por invalidez.
Dores musculoesqueléticas são a principal causa de absenteísmo-doença em todo o mundo, tendo um custo anual estimado em 100 bilhões de libras (R$ 600 bilhões), equivalente a 600 mil novos casos de incapacidade por ano, segundo a pesquisa Fit for Work Europe.
Em vista de tantos problemas e consequências que a vida sedentária traz para cidadãos - independentemente de sua nacionalidade - deve-se, portanto, buscar a prática regular de atividades físicas. Escolha qualquer uma, desde que seja aquela que lhe proporcione prazer, bem-estar e, em caso de dores musculares ou articulares, deve-se buscar tratamentos específicos e eficazes, para que a recuperação se dê da maneira mais rápida e satisfatória possível.
A Fisioterapia do século XXI evoluirá para atividades feitas em casa a partir de instruções dadas por profissionais da saúde aos seus pacientes. O MDT ou Método McKenzie oferece essa mudança de hábito, que será introduzida naturalmente à vida contemporânea.
Ao longo de mais alguns anos, talvez uma década, pacientes estarão ainda mais munidos de informações e, portanto, empoderados para se prevenir e - caso necessário - tratar sintomas os quais saibam reconhecer a tempo. Assim será possível evitar, de forma ainda mais eficaz, a sua ausência no trabalho, bem como aumentar a eficiência no tempo gasto em seu tratamento, até sua completa recuperação.
O que se faz necessário agora é sua informação e esclarecimento constantes, para que cada um de vocês, pacientes, tenha uma consciência crítica sobre quais tratamentos deverá buscar. Façam uso deste direito: perguntem. Só se cria opinião através de plena informação.